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sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Liberta-te à tua maneira!


Tradução de How to Make it Your Way, © Mother Earth News | Janeiro/Fevereiro de 1970, traduzido sob expressa autorização. 

O ar está cheio de porcarias, a água tem um sabor estranho, e o trabalho das nove às cinco é uma seca. Estás farto do metro, dos dejectos de cães nas ruas, do trânsito caótico e dos jantares de plástico à frente da televisão. Talvez as ecoaldeias — com todo aquele ar puro, sol, amor e pão caseiro — estejam realmente a viver algo de especial.

Mas como é que se faz isso? O "Turn On, Tune In, Drop Out" de T. Leary é um sentimento nobre... mas não apresenta propriamente um plano pormenorizado. Será que é mesmo possível mandar o chefe para o diabo que o carregue, erguer a cabeça e ir embora como um homem livre... sem morrer de fome?

Claro. É fácil. A aldeia electrónica global é agora! Exactamente como McLuhan, Theobald e Bucky Fuller nos lembram constantemente. Já ninguém precisa de viver em segunda mão. O mundo da escassez material está morto. Viva a Energia Livre. O tempo e o espaço agora são moldáveis, e a vida é exactamente aquilo que fazes dela.

Resumindo, há duas maneiras de viver: (1) Jogar "o jogo." Tentar ganhar dinheiro primeiro e — assumindo que o consegues obter — comprar o tipo de vida que desejas. Ou, (2) livrares-te das amarras, criar já a tua própria cena, e deixar que o problema do dinheiro se resolva por si mesmo.

Se tens algum dinheiro, óptimo. A tua escolha inicial pode ser um pouco mais ampla. Se não tens dinheiro, não te preocupes. Isso não limita o teu estilo de vida. Além disso, podes facilmente ser pago para fazer exactamente aquilo que já queres fazer. Não importa se os "Bons Tempos" para ti significam regressar à terra ou se tens aspirações a, digamos, andar em digressão com uma banda famosa. As duas opções são fantásticas e possíveis. Eu já fiz ambas as coisas e outros estilos de vida pelo meio. E tu também o podes fazer.

Por exemplo, esta ideia de "regressar à natureza" actualmente é muito popular e está a ganhar força. Suponhamos que queres entrar nessa onda, mas que tens pouco ou nenhum dinheiro. Bem, independentemente do que "eles" te dizem, é possível. A terra não está toda ocupada.

Como Bradford Angier nota no seu livro Como Viver no Mato Por Uns Cêntimos,  existem vastas áreas de natureza intacta e praticamente desabitada espalhadas pela metade superior deste continente. É um território "onde a carne ainda se caça de graça, há peixe para pescar, frutas e vegetais para colher, combustível para cortar, e se tem uma casa pelo prazer de a construir." Angier fala-nos da sua experiência em primeira mão de ter criado raízes na Colúmbia Britânica, a província mais ocidental do Canadá.

E toda aquela terra vazia no Alasca e no Canadá? É realmente gratuita? Bem... tecnicamente, não. Supõe-se que devas pedir uma licença para ter uma quinta ou algo do género, pagar uma taxa média de entre um a cinco dólares por acre, e incluir o teu nome nos registos fiscais.

Mas isso é uma chatice, então por que não fazer o que os colonos sempre fizeram na fronteira: ocupar a terra. Alguns quinteiros com quem falei na Colúmbia Britânica recomendam-no. Basta consultares um mapa da área para evitares invadir terras já ocupadas, aventurar-te no mato, escolher um local e construir a tua cabana. Se alguém algum dia quiser comprar ou arrendar o teu terreno, terás, como ocupante, direito de preferência para adquirir o título de propriedade. Então, para quê preocupares-te já com a burocracia?

Já agora, nem o Canadá nem o Alasca são só gelo e neve. Cai menos neve no Sudeste do Alasca do que anualmente em Chicago. As hortas no extremo norte são fantásticas, com couves do tamanho de bacias de lavar roupa, e alguns frutos silvestres crescem tão densamente que são considerados uma praga. As ilhas Rainha Charlotte, ao largo da costa da Colúmbia Britânica, combinam um clima extremamente ameno e o limite legal de se poder caçar um veado por dia, por pessoa, se o teu objectivo for viver dos recursos da terra.

Se queres escapar... mas sem ter de ir tão longe, investiga os milhares e milhares de hectares de terras governamentais espalhadas pelos nossos próprios Estados ocidentais. Podes, na prática, reclamar uma parte como tua, se tiveres um motivo "legítimo". Traduzido livremente, isto significa se pretenderes explorar essa terra de alguma forma. [NDT - esta lei da livre ocupação de terrenos que sejam propriedade pública, ou seja, do governo, ainda se encontra em vigor nos Estados Unidos da América, na Europa os nossos governos agem como se a propriedade estatal fosse privada, conseguimos ser piores que a capital do capitalismo mundial neste aspecto.]

Muito bem. Joga o jogo deles. No Arizona, por exemplo, já vagueei por quilómetros e quilómetros de terra deslumbrante onde podes registrar uma concessão de mineração reconhecida ao inscreveres-te num escritório local e cavando um buraco de 1,20 por 1,80 por 3 metros de profundidade. Naturalmente, depois de provares a existência da tua concessão dessa forma, vais querer mudar-te para a propriedade para a manteres debaixo de olho. Para manteres o terreno, é necessário investir cem dólares em aperfeiçoamentos e pagar alguns dólares de imposto todos os anos.

Uma vez mais, se isto for demasiado trabalhoso, vai pura e simplesmente para as colinas e ocupa a terra. Milhares de outros já o fizeram.

Se o teu objectivo é obter um título legal de terras férteis próximas de uma cidade vibrante... isso também é possível. Não será completamente gratuito, mas podes por vezes adquirir uma quinta abandonada pagando os impostos em atraso. Isso requer alguma investigação e habilidade [NDT - em Portugal recomendamos consultar propriedades que estejam em leilão público, no Portal das Finanças], no entanto, a maneira mais simples é comprar uma pequena quinta familiar que um casal idoso queira vender. Os catálogos da Strout e da United Farm Agency — regularmente anunciados nas secções de classificados de muitas revistas e jornais — listam sempre várias quintas dessas  em todas as partes do país. Algumas podem ser adquiridas por meros quatrocentos dólares como entrada. Ecoaldeias recém-formadas e jovens casais com planos para criar uma propriedade rural estão a adquirir estas quintas a um ritmo cada vez maior.

E depois de conseguires obter o teu terreno, o que fazer quanto a um abrigo? A decisão é tua: deixa a tua imaginação voar!

Leary e centenas de outros estão actualmente na onda de viver como os aborígenes, a viver em tendas indígenas das planícies. Faz sentido, pois, ao contrário das tendas dos brancos, uma tenda indígena bem construída é quente no Inverno, fresca no Verão e capaz de resistir a tempestades de vento que podem destruir uma casa convencional. O livro The Indian Tipi, de Reginald e Gladys Laubin, irá imergir-te na rica tradição deste abrigo prático e ensinar-te a construir um.



Se preferires algo mais substancial, podes construir uma casa moderna ao estilo de casa de quinta por um custo incrivelmente baixo utilizando apenas terra. Existe até um manual de instruções definitivo, Handbook For Building Homes Of Earth, gratuito e disponível através do HUD, Division of International Affairs, Washington, D.C. A estrutura básica custar-te-á pouco mais do que o teu trabalho braçal e, possivelmente, alguns euros para as fundações. Isto supera claramente uma hipoteca de trinta anos ou rendas mensais superiores a centenas de euros. [NDT - em Portugal e no Brasil está disponível o livro Manual do Arquitecto Descalço de Johan van Lengen, a edição em português de Portugal da Dinalivro está esgotada, mas a edição brasileira está disponível nas Bertrand. O livro ensina a construir uma aldeia completa utilizando terra, barro, pedras e madeira.)

Por outro lado, se estiveres a ocupar terras, é provável que por perto haja a cabana abandonada de um caçador ou de um mineiro, para onde possas mudar-te ou cujos materiais possas utilizar para construir um novo abrigo. Se compraste uma quinta, provavelmente já escolheste uma com uma casa habitável e celeiros em condições razoáveis.

Ou, como estão a demonstrar alguns que já largaram tudo para serem livres, podes viver numa estrutura tão moderna como o dia de amanhã, mesmo com recursos limitados: no sudoeste dos EUA, alguns novos pioneiros estão a construir cúpulas auto-sustentáveis a partir dos tejadilhos de carroçarias de automóveis abandonados em sucatas. Este método combina o melhor e o pior da tecnologia moderna num abrigo inovador.

Como os tejadilhos de automóveis podem ser obtidos gratuitamente ou por alguns euros cada, uma cúpula de nove metros de diâmetro pode ser erguida por um valor muito em conta.

Com terra e abrigo garantidos, vais provavelmente querer focar-te na comida, que será de uma qualidade muito superior às opções de plástico que se encontram nos supermercados. Ar puro, luz solar e uma horta onde "frutas e vegetais são gratuitos para se colher" combinam-se naturalmente, tal como os ovos e o presunto da tua própria quinta. Uma subscrição da Organic Gardening transformar-te-á num perito em jardinagem em menos de um ano... e ensinar-te-á sobre galinhas, porcos e vacas também. [NDT - em Portugal o que temos mais aproximado disto é a revista Jardins, onde até colabora um dos membros da nossa redacção.]

Se cultivar os teus próprios alimentos te intimida, ainda podes viver bem colhendo a tua parte das toneladas de alimentos gratuitos disponíveis em cada quilómetro quadrado da América rural. Os melhores guias para esta abundância são os três livros de Euell Gibbons: Stalking The Wild Asparagus, Stalking The Blue-Eyed Scallop e Stalking The Healthful Herbs. [NDT - em Portugal e no Brasil existem várias obras sobre plantas selvagens comestíveis, é uma questão de pesquisares os mesmos em alguma livraria de maior dimensão e, obviamente, no Google.]

Gibbons concretiza regularmente tudo o que escreve, o que vai desde apanhar mel em árvores até colher bagas, vegetais e até mesmo preparar vinho de dente-de-leão e compota de pétalas de rosa.

Mas talvez esta ligação à natureza não te fascine. Suponhamos que adoras o teu apartamento na cidade, que preferes refeições em restaurantes, e que tudo o que realmente precisas para completar a tua vida é viajar, ver novos cenários e explorar lugares distantes. Óptimo. Também podes fazer isso sem dinheiro... e em grande estilo.

Um método cada vez mais popular é através do serviço de entrega de automóveis. Se tens pelo menos vinte e um anos e uma carta de condução válida, podes ir de praticamente qualquer grande cidade para qualquer ponto nos EUA conduzindo um automóvel para outra pessoa. Serviços como a AAACON e a Auto Driveaway tratam de todos os pormenores e anunciam-se nas secções de classificados "Pessoais" e "Transportes" dos grandes jornais.

Talvez tenhas de ajustar ligeiramente a data de partida para conseguir um carro com "combustível pago", mas, quando conseguires, se dormires no carro ou acampares ao longo do caminho, a viagem custar-te-á apenas a comida. É até possível obteres dinheiro suficiente para cobrir todas as despesas e ainda guardares algum no bolso. E lembra-te: terás o uso privado de um automóvel pessoal, algo geralmente caro. Carrega-o com equipamento e esquece todas as complicações com que se debatem os que viajam à boleia. Conheço nomes grandes do rock que ocasionalmente transportam guitarras e amplificadores desta forma. Uma vez, conduzi uma série de três carros de luxo de Nova Iorque até Anchorage, no Alasca, com menos de dois dias de intervalo entre mudanças... e ainda ganhei dinheiro na viagem.

Também podes saborear o romantismo de viajar "à boleia"... mas em aviões particulares ou comerciais. Faço isso há quinze anos; é simples.



Vai até a qualquer aeródromo privado de tamanho médio-grande num dia agradável e posiciona-te perto da linha de voo, da área de estacionamento de aeronaves ou do escritório de operações. Quando vires alguém a dirigir-se para um avião de forma profissional, pergunta se está a ir na tua direcção. Podes apanhar uma boleia de 3.000 quilómetros. [NDT - este texto está extremamente datado neste aspecto, o terrorismo político e religioso fez com que os aeroportos sejam das zonas mais restritivas e vigiadas no nosso tempo, mas é agradável recordar quão simples já foram os tempos noutras eras.] 

"Mas não vou precisar de saber muito sobre aviação?" Não. Os pilotos adoram apresentar os novatos ao mundo da aviação, e a falta de conhecimento pode ser a tua qualidade mais encantadora. No entanto, se te sentires desconfortável em andar pelos aeródromos, podes fazer umas aulas introdutórias de voo de cinco dólares que a Piper e a Cessna oferecem. Caso contrário, veste-te de forma asseada e leva só uma mala muito pequena. Vais conseguir boleias.

Se viajar de avião à boleia não for a tua preferência, que tal ser convidado para um cruzeiro pelo Pacífico Sul, pela Riviera ou até à volta do mundo num iate privado? Sim, parece bom demais para ser verdade. Mas é verdade. [NDT - hoje em dia ainda se recrutam pessoas desta maneira para tripulação de iates, seja por precisarem de alguém por terem tido uma ausência inesperada de um tripulante, por quererem companhia ou até, se tiveres experiência, para ires entregar um barco. Nos Açores ainda é comum encontrarem-se pedidos deste género nos anúncios dos jornais locais ou em folhas afixadas em bares frequentados por iatistas, como o mítico Peter Café Sport.]

Vai a um porto de iates. Quanto maior, mais luxuoso e mais glamoroso, melhor. O Ala Wai Basin, junto à Praia de Waikiki em Honolulu, funcionava magnificamente para mim, e amigos que viajaram pela Europa dizem que os pontos de escala mais caros ao longo do Mediterrâneo são fantásticos. Se estiveres nos Estados Unidos continentais, encontra a cidade costeira mais próxima com uma cena náutica extensa e dirige-te para lá.

Anda pelos ketches, escunas e yawls de pelo menos doze metros de comprimento. Se estiveres vivo, a respirar e fores capaz de te manteres de pé, deves receber duas ou três ofertas de cruzeiro por semana. Um aviso de "procura-se boleia" no quadro de anúncios do porto pode desencadear uma procura pela tua pessoa.

Porquê? Porque muitas pessoas ganharam muito dinheiro recentemente, e grande parte desse dinheiro foi gasto em iates de luxo. Afinal, além de um Learjet, o que mais existe como manifestação de puro prestígio? Por outro lado, é preciso uma tripulação para navegar um desses barcos, e as tripulações são caras e difíceis de encontrar, a menos que... a menos que se encontre alguém disposto a ir até ao Rio, Cidade do Cabo ou Taiti com tanto entusiasmo que aceite ajudar a tripular o barco em troca da viagem, das refeições e — talvez — cinquenta euros de bónus. E é aqui que tu entras a bordo.



Portanto, sim, é possível libertares-te... mas de onde virá o dinheiro? Podes realmente fazer exactamente o que queres e ainda conseguir ganhar dinheiro? Absolutamente. Na verdade, é mais provável que ganhes grandes quantidades de dinheiro se estiveres alegremente em sintonia contigo próprio.

Esta é a era da Informação Electrónica. Qualquer conhecimento que tenhas é uma mercadoria comercializável. Vai onde a tua curiosidade te levar. Desenvolve as habilidades e cultiva os interesses que queres ter. Depois, troca esse conhecimento especializado pelo dinheiro que outros estarão ansiosos por te oferecer. [NDT - temos o exemplo de milhares de nómadas digitais, criadores de conteúdos que ganham a vida a gravar as suas viagens, idas a restaurantes, o seu estilo de vida na quinta, a construir coisas e, com destaque para o Brasil, a ensinar a terceiros a arte e a liberdade do estilo de vida sobrevivencialista. Em Portugal destacamos o Project Kamp, em que um grupo de jovens ecologistas em poucos anos já conseguem angariar dezenas de milhar de euros no seu canal e em campanhas de crowdfunding.]

Bradford Angier retirou-se para uma cabana remota nas Montanhas Rochosas canadianas... e fez uma pequena fortuna a escrever sobre isso. A minha companheira adora cavalos ingleses de sela. Sabe tanto sobre eles que agora consegue dar aulas a dez alunos ao mesmo tempo, cobrando cinco dólares a cada um. Eu gosto, de entre todas as coisas, de construir pequenos aviões caseiros para uma ou duas pessoas, que se constroem em casa, e consigo um rendimento acima da média em consultoria com informações sobre isto.

Vai para onde queiras estar e aproveita a percentagem de conhecimentos gratuitos que lá existirem. Passado algum tempo, serás considerado uma autoridade num qualquer assunto, um artesão ou — no mínimo — uma referência na tua área de eleição. Quando o dinheiro começar a aparecer, terás a tua parte.

E também vais conseguir obter algumas recompensas inesperadas e suculentas. Como uma digressão de dois meses pela Europa, com todas as despesas pagas mais salário, ao lado das pessoas que amas. Aconteceu comigo, e tudo porque gostava de música folk quando esta estava em alta e passava muito tempo nos cafés onde esta era tocada. Gradualmente, fui conhecendo — e criando uma relação próxima — com vários músicos. E, como eu era praticamente o único no grupo que não actuava, adivinha quem foi a escolha lógica quando os Bitter End Singers precisaram de um gestor de digressão para a sua viagem europeia? Exactamente.

E a moral da história é simplesmente esta: podes sair da gaveta onde "eles" te querem manter, e podes viver exactamente a vida de sonho que desejas. Basta fazê-lo.

Tradução e notas de Flávio Gonçalves bem como o promptcraft das ilustrações.

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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

A natureza deixa-nos mesmo mais felizes


Estudos científicos dão-nos provas contundentes de que o tempo que passamos na natureza nos revigora tanto o cérebro como o corpo.

À medida que a sociedade ocidental se desenvolveu, afastámo-nos dos Grandes Exteriores, atribuindo mais importância às conquistas tecnológicas e às criações humanas. Há cada vez mais dados científicos que revelam que, ao afastarmo-nos da natureza, não só nos distanciámos dos problemas ambientais ao nível das crises, como também começámos a perder contacto com uma ferramenta vital para a nossa saúde mental. Ao negarmo-nos a passar tempo em espaços verdes, corremos o risco de rejeitar uma parte essencial do nosso legado — uma verdade que, ironicamente, agora conseguimos ver mais claramente graças aos avanços na tecnologia médica.

A ciência de vermos paisagens verdes

Curandeiros de várias alternativas medicinais, desde a medicina Ayurvédica da Índia até à medicina tradicional chinesa, têm defendido há muito a importância da natureza. De facto, em muitas culturas, é considerada uma forma de medicina. Mas a noção de que as árvores e as flores podem influenciar o bem-estar psicológico permaneceu em grande parte por ser testada cientificamente até 1979, quando o cientista comportamental Roger S. Ulrich analisou a influência mental das paisagens naturais em estudantes stressados. Os seus testes psicológicos mostraram diferenças nos estados mentais e nas perspectivas pessoais depois de os estudantes visualizarem vários cenários ambientais. As imagens da natureza aumentaram sentimentos positivos de afecto, brincadeira, amizade e euforia. Por outro lado, as paisagens urbanas cultivaram destacadamente uma só emoção nesses estudantes: tristeza. A visualização da natureza tendia a reduzir sentimentos de raiva e agressividade, e as paisagens urbanas tendiam a aumentar esses sentimentos. Encorajado pelos seus resultados, Ulrich organizou uma experiência semelhante para medir a actividade cerebral em adultos saudáveis e não stressados. A sua equipa descobriu que ver paisagens naturais estava associado ao aumento da produção de serotonina, um químico que actua no sistema nervoso. Quase todos os medicamentos antidepressivos são considerados eficazes ao melhorar a disponibilidade de serotonina para uso na comunicação entre células nervosas, daí o seu apelido, "o químico da felicidade". Um estudo de seguimento mostrou que os espaços verdes actuavam como uma espécie de Valium visual: as paisagens da natureza fomentavam pensamentos positivos e reduziam a raiva e agressividade pós-stress.

Muitos outros investigadores contemporâneos recorreram a testes objectivos para apoiar o trabalho pioneiro de Ulrich:

  • Num dos estudos, adultos mais velhos num centro de cuidados residenciais no Texas participaram das mesmas actividades mentais em dois contextos — uma vez num jardim e outra vez numa sala de aula interior. Demonstrou-se que os participantes produziram níveis mais baixos da hormona do stress, cortisol, enquanto estavam no jardim.
  • A presença de plantas numa sala, principalmente plantas com flores, pode melhorar a recuperação do stress induzido por um vídeo emocional, trazendo rapidamente a actividade das ondas cerebrais aos níveis normais, descobriram investigadores da Universidade Estatal do Kansas.
  • Um grupo de investigação de Taiwan relatou que paisagens de quintas rurais estão associadas a uma maior actividade das ondas alfa, principalmente na parte direita do cérebro, que tem sido associada à criatividade. Paisagens de florestas e paisagens naturais com água promovem a actividade das ondas alfa e diminuem a frequência cardíaca. Por outro lado, às paisagens urbanos foi associado um aumento na tensão muscular.

Banhos de floresta

Entre as muitas razões para preservar o que resta das nossas florestas, destacam-se os aspectos mentais. Em 1982, a Agência Florestal do governo japonês lançou o seu plano de shinrin-yoku. Em japonês, shinrin significa floresta, e yoku refere-se aqui a "banhar-se". De forma mais ampla, é definido como "absorver, com todos os nossos sentidos, a atmosfera da floresta". Em 1990, o Dr. Yoshifumi Miyazaki da Universidade de Chiba levou a cabo um pequeno estudo de teste de shinrin-yoku na bela paisagem de Yakushima, lar das florestas mais veneradas do Japão. Miyazaki encontrou níveis mais baixos de cortisol nos sujeitos de estudo após ests terem efectuado caminhadas na floresta, comparado com aqueles que caminharam no ambiente controlado do laboratório.

Desde então, investigadores universitários e governamentais no Japão têm colaborado em investigações pormenorizadas, incluindo projectos para avaliar marcadores fisiológicos enquanto os sujeitos de estudo passam algum tempo entre árvores. Estes estudos confirmaram que passar algum tempo num ambiente florestal pode reduzir o stress psicológico, sintomas depressivos e hostilidade, ao mesmo tempo que melhora o sono, e aumenta o vigor e a sensação de vivacidade. Estas mudanças subjectivas correspondem a resultados objectivos reportados em quase uma dúzia de estudos — que uma pressão arterial mais baixa, as pulsações e os níveis de cortisol acompanham o tempo passado entre árvores e flores. As hormonas de stress podem comprometer os nossos sistemas imunitários, principalmente as actividades dos defensores de primeira linha, como as células antivirais. Graças ao facto de banhos de floresta poderem reduzir a produção de hormonas de stress e elevar o humor, não é surpreendente que isto também influencie a força do sistema imunitário.

Plantas, dores e doença

Em 1984, Ulrich publicou um estudo pioneiro na prestigiada revista Science, no qual examinou os registos de adultos que tinham sido submetidos à mesma cirurgia de vesícula biliar no mesmo hospital. A única grande distinção entre os pacientes era o quarto para o qual foram levados para a recuperação. Os quartos de um lado do hospital tinham janelas com vista para uma minifloresta, enquanto que os quartos do outro lado ofereciam uma vista radicalmente diferente para tijolos vermelhos. Os resultados foram bastante relevantes: aqueles que tinham uma vista exterior para árvores tiveram estadias hospitalares significativamente mais curtas, menos queixas pós-cirúrgicas e conseguiram gerir a sua dor com aspirina em vez de com narcóticos. Outros estudos confirmaram as descobertas de Ulrich. Entre eles:

  • Uma investigação norueguesa mostrou que ter uma planta no local de trabalho de um escritório ou à vista diminui significativamente a quantidade de baixas médicas por parte dos trabalhadores.
  • Uma investigação publicada em 2008 no Journal of the Japanese Society for Horticultural Science mostrou que tornar mais verdejantes as salas de aula do ensino secundário seleccionadas para o estudo com plantas em vasos reduziu significativamente as visitas dos alunos à enfermaria da escola, comparativamente ao número de visitas dos alunos que frequentavam aulas em salas sem plantas.

Bairros verdes

Projecções da Organização Mundial de Saúde indicam que em menos de 20 anos, 75% da população mundial viverá em ambientes urbanos, em comparação com a distribuição actual de cerca de 54% de habitantes urbanos. A capacidade potencial de um único factor — o tempo na natureza — para contrariar uma cascata de hormonas de stress terá implicações enormes tanto para nós como para as gerações futuras.

Dado que muitos aspectos da saúde humana e até mesmo a longevidade são negativamente influenciados pelo stress, deduz-se que os espaços verdes promovem a saúde, a vitalidade e a longevidade humana. Muitas investigações confirmam-no. Quanto mais perto a nossa família vive de um espaço verde, mais saudável é provável que seja e mais longa será a vida que provavelmente terá. Estar na natureza por períodos breves — mesmo que seja só tê-la à vista — pode reduzir a enxurrada de hormonas de stress e melhorar as defesas imunológicas.

O nosso cérebro na natureza

Os críticos poderiam sugerir que os sujeitos de estudo que relatam uma melhoria do humor ao visualizar paisagens naturais estavam só a assinalar as caixas certas para irem ao encontro das expectativas dos investigadores. O verdadeiro teste objectivo seria a capacidade de entrar no cérebro e analisá-lo enquanto está focado na natureza.

Na década de 90, investigadores na Califórnia obtiveram essa capacidade ao utilizar a ressonância magnética funcional (MRI), uma técnica sofisticada de imagem cerebral. Os seus resultados mostraram que paisagens da natureza esteticamente agradáveis activavam uma parte específica do cérebro rica em receptores opioides. Estes receptores conectam-se às células cerebrais dentro do sistema de recompensa da dopamina e têm o potencial de desencadear sentimentos de bem-estar e de impulsionar a motivação necessária para um comportamento mais positivo.

Isto foi uma descoberta incrível, revelando que a natureza age como uma pequena gota de morfina para o cérebro. Embora sejam mais conhecidos por inibir a dor, os receptores opioides fazem muito mais que isso. Quando activados, as pessoas têm menos probabilidade de se aperceberem como estressadas, ficam mais propensas a formar laços emocionais, e tendem a focar-se menos em memórias negativas.

Em dois estudos separados, investigadores coreanos utilizaram imagens para avaliar padrões de activação cerebral enquanto os sujeitos de estudo visualizavam paisagens urbanas ou naturais. No primeiro estudo, a visualização das paisagens urbanas resultou numa actividade mais pronunciada na amígdala, um centro no cérebro mais frequentemente associado a sentimentos de medo. A hiperactividade deste centro tem sido ligada à impulsividade e à ansiedade. Além disso, o stress crónico e o cortisol podem promover actividade na amígdala, e nesse estado hiperactivo, tendemos a priorizar selectivamente a memória de eventos e experiências negativas. Isto torna-se num ciclo vicioso: o mundo parece ser um pouco mais assustador e deprimente, e as nossas memórias dominantes confirmam tal como sendo verdade. Quando a amígdala está constantemente excitada, alimenta a sensação de medo no cérebro. A boa notícia é que podemos recuperar o controlo reconhecendo os nossos processos de pensamento e colocando-nos em ambientes que irão reduzir o medo.

Quando estudos de grandes populações que indicam um efeito de amortecimento do stress são sobrepostos a estudos que usam avaliações subjectivas e objectivas de humor e stress — e quando esta informação é, por sua vez, sobreposta a dados hospitalares e estudos de imagiologia cerebral — a destaca-se a influência da natureza. E quando se junta a isto as dezenas de estudos de banhos de floresta do Japão, o argumento de que passar tempo na natureza não tem consequência na saúde e fisiologia humana torna-se impossível de manter.

Os resultados destas investigações científicas deveriam despertar em todos nós a importância de preservar a natureza. O bem-estar dos indivíduos e das nações — e claramente do planeta — depende do reconhecimento de que o contacto com a natureza é essencial para a saúde humana.

Eva M. Selhub e Alan C. Logan

A Dra. Eva M. Selhub é associada clínica no Instituto Benson-Henry de Medicina Mente e Corpo no Hospital Geral de Massachusetts e professora na Faculdade de Medicina de Harvard. Alan C. Logan é médico naturopata, cientista e investigador independente. Este artigo baseia-se num excerto do livro de ambos, Your Brain on Nature: The Science of Nature’s Influence on Your Health, Happiness and Vitality, disponível em www.HarperCollins.ca.

© Mother Earth News | traduzido sob expressa autorização, publicado originalmente no nº 273 Dezembro de 2015/Janeiro de 2016.

domingo, 8 de dezembro de 2024

Vamos libertar as nossas sementes


Os jardineiros mais atentos que bisbilhotaram os catálogos de sementes seleccionadas para este Inverno e Primavera podem ter reparado numa nova categoria desconhecida: as sementes de "Código Aberto". Esta nova marca, etiquetada como "Código Aberto", "OSSI" ou "Iniciativa de Semente de Código Aberto", posiciona-se ao lado de designações mais familiares, como as "legado" e "Orgânico Certificado", destinadas a ajudar os compradores a restringirem as suas escolhas. Mas a OSSI na realidade é mais uma anti-marca uma vez que designa "sementes livres". Isto significa que qualquer variedade com esta etiqueta não está sobrecarregada por patentes e outras restrições que, cada vez mais, retiram várias variedades de circulação, já que as sementes patenteadas não podem ser legalmente guardadas, replantadas ou partilhadas, e devem ser compradas todos os anos.

O mais preocupante é que a genética patenteada não pode ser utilizada para fins de aperfeiçoamento de plantas, o que significa que os criadores nas universidades e nas pequenas empresas de sementes — que realizam trabalhos promissores, principalmente com sementes orgânicas — sentem em primeira mão esta diminuição da diversidade. Perde-se assim esta matéria-prima é devido ao controlo empresarial. Neste vácuo genético cada vez maior, os criadores de plantas não podem aceder à diversidade do que deveria ser o nosso património partilhado de sementes. Agora, principalmente, precisamos de novas variedades que estejam melhor adaptadas ao cultivo orgânico e a um clima em constante mudança.

É aqui que entra a Iniciativa de Semente de Código Aberto. É um bem comunitário aberto para germoplasma (material genético), fundada em 2012 como uma colaboração entre criadores, agricultores e empresas de sementes, e modelado a partir do software de código aberto. A OSSI estabeleceu um caminho alternativo paralelo às poucas gigantes empresariais que possuem a maior parte dos activos globais de sementes. "Estamos a trabalhar para construir um modelo comercial para que as pessoas possam comprar sementes livres", diz Jack Kloppenburg, membro do conselho da OSSI e sociólogo emérito da Universidade do Wisconsin, Madison. Este tem lutado contra o controlo empresarial das sementes há três décadas. "Não importa o que a Monsanto, a Seminis e a Syngenta façam, a OSSI pode fazer o seu próprio trabalho em paralelo, de forma proactiva. Não é que não nos preocupemos com o que acontece lá fora; os problemas são substanciais. Mas na medida em que a OSSI puder apoiar e fazer parte do sistema alternativo, é aí que queremos estar."

A autora e criadora de plantas da OSSI, Carol Deppe, de Fertile Valley Seeds do Oregon, também está a travar esta batalha. "O antigo modelo de domínio público de um bem comum como sementes, em última análise, não funciona; é uma batalha perdida", diz ela. "Nós, criadores de código aberto, continuamos a colocar germoplasma aperfeiçoado em prol do bem comum, mas as grandes empresas continuam a retirá-lo." Para enfrentar isto, a táctica da OSSI tem um toque especial: vem na forma de um compromisso simples, aceite tanto pelos criadores como por aqueles que posteriormente utilizam as sementes comprometidas. Os criadores concordam em compartilhar os resultados do seu trabalho original livremente, com a provisão de que qualquer pessoa que depois utilize a semente comprometida também concorde em compartilhar livremente quaisquer resultados da sua criação — tornando a OSSI não só um bem comum, mas também um bem comum protegido.

Outros criadores proeminentes da OSSI incluem Tom Stearns da High Mowing Organic Seeds, Frank Morton da Wild Garden Seed e Irwin Goldman da Universidade do Wisconsin, Madison. As primeiras 15 empresas a oferecer sementes comprometidas pela OSSI são as Adaptive Seeds, Backyard Beans and Grains, Bountiful Gardens, Cultivariable, Family Farmers Seed Cooperative, Fedco Seeds, Fertile Valley Seeds, Fruition Seeds, High Mowing Organic Seeds, Lupine Knoll Farm, Nichols Garden Nursery, Oikos Tree Crops, Restoration Seeds, Siskiyou Seeds e Wild Garden Seed. As variedades disponíveis agora são quase 100.

A perda de diversidade é um problema global, e Kloppenburg afirma que a organização está a pensar numa versão internacional deste compromisso, através de uma parceria com o Centre for Sustainable Agriculture, da Índia. Kloppenburg convida os cultivadores a fazerem a sua parte para ajudar a proteger as nossas sementes do controlo empresarial, comprando sementes da OSSI e contribuindo para a organização. Saiba mais e veja uma lista de todas as variedades comprometidas em www.OSSeeds.org.

Margareth Roach

© Mother Earth News | traduzido sob expressa autorização, publicado originalmente no nº 273 Dezembro de 2015/Janeiro de 2016.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Os conhecimentos de Helen e Scott Nearing


Tradução de The Wisdom of Helen and Scott Nearing, © Mother Earth News | traduzido sob expressa autorização.

Como já várias vezes referimos nestas páginas, a Helen e o Scott Nearing estão anos luz à nossa frente no que diz respeito ao regresso à terra e a viver uma vida de simplicidade voluntária. E é normal que assim seja, uma vez que começaram com uma quinta degradada nas Green Mountains do Vermont há já muito tempo, no Outono de 1932.

A vida era boa para os Nearing naquela mini-quinta... até as encostas em redor deles começarem a eclodir com resorts de ski nos primórdios dos anos 50, obrigando Helen e Scott a mudarem-se para uma enseada rochosa na costa do Maine e a começar tudo de novo.

E é aí que encontramos actualmente os Nearing: ainda a limpar monda, ainda a construir honestas casas de pedra (a Helen e o Scott são famosos pelas suas casas de pedra), e ainda a plantar a maior parte da sua dieta vegetariana eles mesmos em jardins holísticos inacreditavelmente produtivos... como têm feito há já 50 anos.

Naturalmente (de várias formas), os Nearing aprenderam algumas coisas acerca de vida de quinta e regressar ao básico ao longo dos anos. E, para sorte de todos nós, concordaram em partilhar algum do seu conhecimento com os leitores da Mother Earth News numa coluna de perguntas e respostas. Não contem com respostas personalizadas às vossas questões. As questões mais frequentes serão aqui - e só aqui respondidas - onde todos podemos ler o que os Nearing têm a dizer.

P: Limpei 1,5 hectares de amieiros dos meus jardins, mas agora tenho de lidar com a tarefa de retirar os troncos que estão bem enraizados. Há como me livrar deles sem ter de utilizar maquinaria pesada? Já vi escavadoras a trabalhar e dão cabo do solo.

R: Há coisa de uns vinte anos, tivemos o mesmo problema que aqui descreve: um pedaço de terra repleto de árvores e troncos de arbustos. Limitamo-nos a cortar o lote todo encostado ao chão e depois cobrimos tudo com muita palha podre. Passados alguns anos, os troncos apodreceram por completo e a terra ficou limpa. Esta técnica é uma alternativa às escavadoras, e deste modo prepara-se uma terra crua para uma bela plantação de mirtilos. Encontrará uma descrição pormenorizada de como o fizemos no Capítulo 8 do nosso livro, Continuing the Good Life.

P: Qual a vossa opinião acerca das "ervas" medicinais, como os chás medicinais? Caso façam uso deles, quais os vossos favoritos?

R: Utilizamos raiz de consólida esmagada como cataplasma em feridas e manchas na pele, e o sumo das folhas de aloe vera com o mesmo propósito. Bebemos chás de camomila, cavalinha e frutos de roseira brava pelas suas propriedades benéficas.

A nossa amiga Juliette de Bairacli Levy, no seu Herbal Handbook for Everyone, cobre o assunto em grande detalhe. Infelizmente, o livro esgotou, mas - caso consiga encontrar algum exemplar numa biblioteca ou alfarrabista - estamos certos de que o achará de grande utilidade (bem como outros volumes da autoria da Juliette).

P: Fiquei a conhecer-vos graças aos artigos na Mother Earth News, livros e passa palavra. Gostava mesmo de trabalhar convosco... pois quero aprender imenso acerca da jardinagem orgânica, com pouca tecnologia.

No passado, fui aprendiz em Sonnewald com os LeFevers, que foram extremamente úteis aos muitos que foram ter com eles. Contudo, comprendi que - naquela situação - o processo de aprendizagem tinha de ser frequentemente interrompido para deixar que outros também participassem no mesmo projecto por algum tempo.

Claro, não faço ideia de precisam de ajuda. Se não precisarem, talvez me possam indicar outros jardineiros da Costa Leste que queiram aprendizes. Adoro trabalhar no duro e seria um ajudante bem motivado.

R: Depois de milhares de pessoas nos aparecerem todos os anos a querer aprender ou "ajudar"... tivemos de publicar uma carta formal que dizia algo como isto: "ficamos satisfeitos pelo vosso interesse no nosso modo de vida. Desde a publicação do nosso livro Living the Good Life [Viver a Boa Vida], centenas têm perguntado se podem visitar a nossa quinta durante o Verão, um mês, uma semana, um dia ou uma hora. Teríamos muito gosto em vos receber a todos, mas isto cria-nos problemas. Caso tenhas de abandonar o nosso modo de vida quinteiro autossuficiente para criar uma escola, uma cada de hóspedes, um restaurante - ou qualquer tipo de instituição - estaríamos a abdicar da nossa boa vida e a começar um negócio! 

Preferimos continuar a viver a nossa vida simples de quinteiros, utilizando o tempo livre para escrevermos... o que fazemos durante as manhãs. Podemos receber visitas - por marcação - entre as 15:00 e as 17:00 da tarde, mas as nossas manhãs são só nossas.

Lamentamos não ser mais acolhedores, mas demasiados visitantes iriam manter-nos afastados do trabalho necessário e constante de vários livros novos, os quais estamos determinados a completar. Agradecemos a vossa consideração em deixar-nos continuar a viver a boa vida."

Publicado originalmente na edição de Jan/Fev de 1980 da Mother Earth News, esta tradução foi efectuada por Flávio Gonçalves e deixou de fora algumas perguntas que consideramos irrelevantes, mas que podem ser consultadas no original em língua inglesa. Caso nos queira auxiliar a traduzir e produzir mais conteúdos, por favor consulte o nosso Patreon. Esta tradução foi devidamente autorizada pelos detentores dos direitos de autor e pode ser livremente reproduzida desde que incluam uma ligação à versão original e não omitam o nome do tradutor.

Foto: Walden Woods Project’s Thoreau Institute Library

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

John Shuttleworth: Director e Editor da Mother Earth News

Entramos em 2022 inaugurando a nova secção Entrevistas Históricas traduzindo a primeira entrevista do Plowboy - nome genérico utilizado pela redacção da Mother Earth News para assinar as suas entrevistas - com John Shuttleworth, fundador da revista pioneira do sobrevivencialismo e da autossuficiência dos EUA unindo várias gerações de sobrevivencialistas, revista essa que assinalou o seu 50º aniversário em 2020 e é uma grande inspiração para a Prontidão & Sobrevivência.

John e Jane Shuttleworth