Em Outubro iremos lançar o manual 150 Esclarecimentos ao Guerrilheiro da autoria do general Alberto Bayo, esta obra tornou-se um clássico de leitura obrigatória na cena prepper norte-americana graças à edição da Paladin Press, editora fundada pelo editor da lendária revista Soldier Of Fortune e que, goste-se ou não, é a principal inspiração para o modelo editorial que temos aplicado na P&S.
Ao longo do século XX, poucos nomes reuniram, com tanta naturalidade, o papel de soldado profissional, estratega de operações especiais e formador de novos quadros militares como Alberto Bayo y Giroud. A sua figura, embora muitas vezes associada aos grandes protagonistas políticos do seu tempo, deve ser compreendida sobretudo como a de um homem de carreira militar invulgar, cujo percurso atravessa os principais conflitos ibero-americanos da primeira metade do século, e cuja obra teórica viria a influenciar decisivamente o pensamento táctico sobre guerra irregular.
Nascido em 1892 na cidade cubana de Camaguey, então ainda sob domínio espanhol, Alberto Bayo pertencia a uma família com raízes militares. Filho de um oficial de artilharia, cedo foi levado para Espanha, onde prosseguiu os estudos, primeiro em Barcelona e mais tarde na Academia Militar de Toledo, concluindo a sua formação em 1915. Pouco depois, tornou-se piloto militar, integrando o corpo de aviação espanhol numa altura em que o avião era ainda uma novidade no campo de batalha.
A sua primeira experiência real de combate surgiu com a Guerra do Rife, no norte de África, entre 1924 e 1927. Como oficial da Legião Espanhola, participou em operações de combate contra as forças do Rife, conhecidas pelo seu domínio do terreno e resistência aguerrida. Estas campanhas, marcadas por escaramuças, emboscadas e mobilidade constante, deixaram em Bayo uma impressão duradoura — não só pela dureza do combate, mas pelo modo como os combatentes locais aplicavam princípios que desafiavam a doutrina militar convencional. A lição foi silenciosamente absorvida, para mais tarde ser transposta para os livros.
Com a proclamação da Segunda República, Bayo regressou à vida militar em tempo de paz, assumindo funções na Força Aérea. Mas com a eclosão da Guerra Civil Espanhola em 1936, voltou ao campo de batalha. Foi-lhe confiado o comando da operação de desembarque republicano nas ilhas Baleares, nomeadamente em Maiorca — uma missão ambiciosa e logisticamente difícil, que acabou por não atingir os objectivos definidos. Apesar disso, Bayo manteve-se como uma figura respeitada nos círculos militares republicanos, tendo posteriormente assumido cargos administrativos no Ministério da Guerra.
Com a derrota da República, atravessou a fronteira francesa com a família e conheceu o internamento. Durante a Segunda Guerra Mundial, colaborou com as autoridades francesas no esforço aliado, chegando mesmo a ser distinguido com a Legião de Honra. Mais tarde, exilou-se no México, onde deu início a uma nova fase da sua vida: a da escrita, da reflexão e da transmissão de conhecimentos militares.
Foi no exílio que Alberto Bayo consolidou a sua reputação como teórico da guerra de guerrilha. Obras como A Guerra Será dos Guerrilheiros (1937) e 150 Esclarecimentos ao Guerrilheiro (1955) demonstram um pensamento claro, metodológico e enraizado na experiência de combate. Bayo abordava a guerrilha não como último recurso, mas como forma legítima e eficaz de acção militar, especialmente adaptada a contextos de assimetria de forças. Os seus manuais seriam mais tarde lidos e estudados em escolas militares de várias partes do mundo, da América Latina aos Estados Unidos.
Já em idade avançada, e a convite de jovens activistas cubanos exilados no México, Bayo participou na formação de um pequeno grupo de combatentes que se preparava para iniciar uma campanha armada em Cuba. Durante várias semanas, ministrou aulas práticas de táctica, cartografia e sobrevivência, baseando-se na sua longa experiência em campanhas irregulares. Muitos anos depois, os seus antigos alunos recordar-se-iam do rigor, da disciplina e do sentido prático que lhes transmitira. Ficou conhecido como o homem que treinou Fidel Castro!
Após a mudança de regime em Cuba, em 1959, Bayo regressou à ilha e foi integrado nas Forças Armadas Revolucionárias com o posto de general. Nos últimos anos da sua vida, desempenhou funções pedagógicas, ajudando a estruturar o ensino militar e a terminologia técnico-militar em língua espanhola. Faleceu em Havana em 1967, aos 75 anos.
A vida de Alberto Bayo y Giroud, quando vista sem as lentes da política ou da ideologia, revela a consistência de um percurso militar atento às transformações do combate moderno. Foi um oficial que passou da aviação à infantaria, do campo de batalha africano às academias mexicanas, da derrota republicana à reconstrução técnica de um exército latino-americano. Mas foi, acima de tudo, um pedagogo — alguém que acreditava que a experiência de combate, por mais dura que fosse, deveria ser racionalizada, estudada e transmitida.
Num tempo em que a guerra convencional começava a ser substituída por conflitos assimétricos e insurgências populares, Bayo foi um dos primeiros a compreender a necessidade de formar combatentes capazes de pensar, adaptar-se e sobreviver em terrenos onde a superioridade técnica já não bastava. O seu legado permanece, discreto mas sólido, nas páginas dos manuais, nas doutrinas de guerrilha e nos testemunhos de quem com ele aprendeu.
Flávio Gonçalves
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