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domingo, 31 de agosto de 2025

Quem foi Hans-Adolf Prützmann?

 

Hans‑Adolf Prützmann, nascido a 31 de Agosto de 1901, em Tolkemit, na antiga Prússia Oriental e falecido a 16 de Maio de 1945, em Lüneburg. Destacou-se como um dos oficiais de maior relevo das SS e da polícia nazi. No final do Verão e início do Outono de 1944, Heinrich Himmler lançou a Unternehmen Werwolf (Operação Lobisomem), ordenando ao SS-Obergruppenführer Hans-Adolf Prützmann que começasse a organizar uma tropa de elite composta por forças voluntárias destinadas a operar secretamente atrás das linhas inimigas à medida que a Alemanha ia perdendo território. Tal como inicialmente concebidas, estas unidades Werwolf deveriam ser formações militares ou paramilitares legítimas, devidamente fardadas, treinadas para executar operações clandestinas em território inimigo de forma semelhante às forças especiais aliadas, como os Comandos. Não se previa que actuassem fora do controlo do Alto-Comando Alemão (OKW), nem que combatessem vestidos à civil, e, se capturados, esperavam ser tratados como soldados.

Prützmann foi nomeado Generalinspekteur für Spezialabwehr (Inspector-Geral da Defesa Especial) e recebeu a missão de estabelecer o quartel-general da força em Berlim, bem como de organizar e instruir os seus elementos. Durante o tempo em que esteve colocado nos territórios ocupados da Ucrânia, Prützmann estudara de perto as tácticas de guerrilha utilizadas pelos partisans soviéticos, e a ideia era ensinar essas mesmas tácticas aos membros da Operação Werwolf. 

Este volume inclui a tradução integral do manual utilizado para o treino destas unidades de guerrilha.
Este volume inclui a tradução integral do manual utilizado para o treino destas unidades de guerrilha, cuja autoria é atribuída a Prützmann.

Início de vida e formação

Filho de um comerciante, concluiu os estudos secundários e, entre 1918 e 1921, integrou-se nos Freikorps “Aulock”, participando nas insurreições da Alta Silésia em 1921. Prosseguiu os estudos de agronomia na Universidade de Göttingen entre 1921 e 1923 e, durante sete anos, exerceu funções como funcionário público agrícola nas províncias da Pomerânia, Brandemburgo e na Prússia Oriental. 

A 1 de Agosto de 1929, filiou‑se no Partido Nacional‑Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazi, militante n.º 142.290) e, pouco depois, ingressou nas SA. A 12 de Agosto de 1930, ingressou nas SS (n.º 3.002), iniciando aí uma carreira de rápida ascensão.

Em Agosto de 1931, foi promovido a SS‑Standartenführer e assumiu o comando da 19.ª SS‑Standarte “Westfalen‑Nord”, em Gelsenkirchen. Em Abril de 1932, tornou‑se deputado no Landtag da Prússia e, em Julho, foi eleito para o Reichstag (por várias circunscrições, à medida que mudava de posição nas SS). Em Setembro de 1932, transferiu‑se para o comando da 18.ª SS‑Standarte “Ostpreussen”, em Königsberg. Foi elevado a SS‑Brigadeführer em Novembro de 1933 e, em Fevereiro de 1934, tornou‑se SS‑Gruppenführer, assumindo o comando do recém‑criado SS‑Oberabschnitt “Südwest” 

De Março de 1937 a Abril de 1941 liderou o SS‑Oberabschnitt "Nordwest" (posteriormente denominado "Nordsee") com sede em Hamburgo. Em 1937 ingressou no governo do Estado como Staatsrat e membro do Senado de Hamburgo, tornando‑se também chefe da administração da polícia da cidade. 

Adolf Hitler com voluntários das SS Werwolf

Segunda Guerra Mundial e cumplicidade nos crimes de guerra

Em Abril de 1941, ascendeu ao posto de Generalleutnant da polícia. No seguimento da invasão da União Soviética, foi nomeado HSSPF para os territórios do Báltico e Norte da Rússia, com base em Riga, onde controlou a segurança interna e as operações contra os guerrilheiros (partisans) soviéticos, incluindo todos os órgãos das SS, SD e Polícia de Ordem.

Posteriormente, em Novembro de 1941, assumiu a chefia como HSSPF da "Rússia‑Sul", com sede em Kiev, sendo promovido a SS‑Obergruppenführer e General da Polícia. 

No início de 1942, ficou encarregue de obter mão‑de‑obra forçada para o projecto da Durchgangsstrasse IV — um polémico empreendimento rodoviário para o qual foram requisitados prisioneiros de guerra soviéticos e judeus dos campos de concentração, muitos dos quais morreram nas terríveis condições ou foram eliminados após o término da obra.

Durante 1942 e 1943, dirigiu várias operações de anti-guerrilha na Ucrânia, resultando em milhares de mortes ou capturas. Em 29 de Outubro de 1943, tornou‑se um dos apenas dois HöSSPF (Líderes Supremos das SS e da Polícia), com jurisdição sobre a Ucrânia e o Mar Negro, controlando cerca de dezasseis comandos subordinados e as maiores forças de policiamento nas áreas ocupadas. 

Já se registavam execuções em massa antes da sua chegada à Ucrânia, como em Babi Yar ou Nikolaev. Contudo, logo após assumir o comando, ocorreu o massacre de Drobytsky Yar (15 de Dezembro de 1941) com mais de 16.000 vítimas. Em Dnepropetrovsk, em Fevereiro de 1942, a Einsatzgruppe D reduziu drasticamente a população judaica. Em Agosto e Setembro, no gueto de Lutsk e em Volodymyr‑Volynskyi, foram assassinados dezenas de milhares de judeus. 

Prützmann com Heinrich Himmler

Últimos comandos e desfecho

Em Janeiro de 1944, liderou a sua própria Kampfgruppe “Prützmann” sob o Grupo de Exércitos do Sul, sendo condecorado com a Cruz Alemã em Ouro. À medida que o Exército Vermelho avançava, Prützmann recuou para Königsberg, mantendo nominalmente o título de HSSPF. Em Junho de 1944 foi nomeado delegado de Himmler junto do OKW e, a 1 de Julho, ascendeu a General das Waffen‑SS.

Em Setembro de 1944, assumiu o cargo de Generalinspekteur für Spezialabwehr, sendo encarregado de estabelecer o quartel‑general da Operação Werwolf em Berlim e de organizar o corpo clandestino para operações atrás das linhas inimigas, com tácticas baseadas nos guerrilheiros soviéticos. 

Em Novembro de 1944, foi nomeado Plenipotenciário Geral para o Estado fantoche da Croácia. No início de 1945, desde Belém, ordenou o assassinato do prefeito de Aquisgrão, Franz Oppenhoff, por operativos Werwolf. Após o suicídio de Hitler, representou Himmler no governo de Flensburg até que Dönitz rejeitou a sua participação. Capturado em 15 de Maio de 1945 em Lüneburg pelo exército britânico, suicidou‑se no dia seguinte, ingerindo cianeto — contrariando registos que apontam 21 de Maio como data da morte, o diário do major Norman Whittaker confirma que esta ocorreu a 16 de Maio de 1945.

Flávio Gonçalves

Nascida como revista, a Prontidão & Sobrevivência é um projecto editorial que edita livros pensados para adeptos do sobrevivencialismo em todas as suas vertentes. Este projecto só é possível graças aos generosos donativos dos seus leitores, ao tornar-se nosso mecenas no Patreon (patamar 5€) receberá em sua casa os nossos livros na versão capa mole ou (no patamar 10€) em capa dura, bem como autocolantes e outro merchandising que possamos vir a editar.

terça-feira, 24 de junho de 2025

Quem foi Alberto Bayo?


Em Outubro iremos lançar o manual 150 Esclarecimentos ao Guerrilheiro da autoria do general Alberto Bayo, esta obra tornou-se um clássico de leitura obrigatória na cena prepper norte-americana graças à edição da Paladin Press, editora fundada pelo editor da lendária revista Soldier Of Fortune e que, goste-se ou não, é a principal inspiração para o modelo editorial que temos aplicado na P&S.

Ao longo do século XX, poucos nomes reuniram, com tanta naturalidade, o papel de soldado profissional, estratega de operações especiais e formador de novos quadros militares como Alberto Bayo y Giroud. A sua figura, embora muitas vezes associada aos grandes protagonistas políticos do seu tempo, deve ser compreendida sobretudo como a de um homem de carreira militar invulgar, cujo percurso atravessa os principais conflitos ibero-americanos da primeira metade do século, e cuja obra teórica viria a influenciar decisivamente o pensamento táctico sobre guerra irregular.

Nascido em 1892 na cidade cubana de Camaguey, então ainda sob domínio espanhol, Alberto Bayo pertencia a uma família com raízes militares. Filho de um oficial de artilharia, cedo foi levado para Espanha, onde prosseguiu os estudos, primeiro em Barcelona e mais tarde na Academia Militar de Toledo, concluindo a sua formação em 1915. Pouco depois, tornou-se piloto militar, integrando o corpo de aviação espanhol numa altura em que o avião era ainda uma novidade no campo de batalha.

A sua primeira experiência real de combate surgiu com a Guerra do Rife, no norte de África, entre 1924 e 1927. Como oficial da Legião Espanhola, participou em operações de combate contra as forças do Rife, conhecidas pelo seu domínio do terreno e resistência aguerrida. Estas campanhas, marcadas por escaramuças, emboscadas e mobilidade constante, deixaram em Bayo uma impressão duradoura — não só pela dureza do combate, mas pelo modo como os combatentes locais aplicavam princípios que desafiavam a doutrina militar convencional. A lição foi silenciosamente absorvida, para mais tarde ser transposta para os livros.

Com a proclamação da Segunda República, Bayo regressou à vida militar em tempo de paz, assumindo funções na Força Aérea. Mas com a eclosão da Guerra Civil Espanhola em 1936, voltou ao campo de batalha. Foi-lhe confiado o comando da operação de desembarque republicano nas ilhas Baleares, nomeadamente em Maiorca — uma missão ambiciosa e logisticamente difícil, que acabou por não atingir os objectivos definidos. Apesar disso, Bayo manteve-se como uma figura respeitada nos círculos militares republicanos, tendo posteriormente assumido cargos administrativos no Ministério da Guerra.

Com a derrota da República, atravessou a fronteira francesa com a família e conheceu o internamento. Durante a Segunda Guerra Mundial, colaborou com as autoridades francesas no esforço aliado, chegando mesmo a ser distinguido com a Legião de Honra. Mais tarde, exilou-se no México, onde deu início a uma nova fase da sua vida: a da escrita, da reflexão e da transmissão de conhecimentos militares.


Foi no exílio que Alberto Bayo consolidou a sua reputação como teórico da guerra de guerrilha. Obras como A Guerra Será dos Guerrilheiros (1937) e 150 Esclarecimentos ao Guerrilheiro (1955) demonstram um pensamento claro, metodológico e enraizado na experiência de combate. Bayo abordava a guerrilha não como último recurso, mas como forma legítima e eficaz de acção militar, especialmente adaptada a contextos de assimetria de forças. Os seus manuais seriam mais tarde lidos e estudados em escolas militares de várias partes do mundo, da América Latina aos Estados Unidos.

Já em idade avançada, e a convite de jovens activistas cubanos exilados no México, Bayo participou na formação de um pequeno grupo de combatentes que se preparava para iniciar uma campanha armada em Cuba. Durante várias semanas, ministrou aulas práticas de táctica, cartografia e sobrevivência, baseando-se na sua longa experiência em campanhas irregulares. Muitos anos depois, os seus antigos alunos recordar-se-iam do rigor, da disciplina e do sentido prático que lhes transmitira. Ficou conhecido como o homem que treinou Fidel Castro!

Após a mudança de regime em Cuba, em 1959, Bayo regressou à ilha e foi integrado nas Forças Armadas Revolucionárias com o posto de general. Nos últimos anos da sua vida, desempenhou funções pedagógicas, ajudando a estruturar o ensino militar e a terminologia técnico-militar em língua espanhola. Faleceu em Havana em 1967, aos 75 anos.


A vida de Alberto Bayo y Giroud, quando vista sem as lentes da política ou da ideologia, revela a consistência de um percurso militar atento às transformações do combate moderno. Foi um oficial que passou da aviação à infantaria, do campo de batalha africano às academias mexicanas, da derrota republicana à reconstrução técnica de um exército latino-americano. Mas foi, acima de tudo, um pedagogo — alguém que acreditava que a experiência de combate, por mais dura que fosse, deveria ser racionalizada, estudada e transmitida.

Num tempo em que a guerra convencional começava a ser substituída por conflitos assimétricos e insurgências populares, Bayo foi um dos primeiros a compreender a necessidade de formar combatentes capazes de pensar, adaptar-se e sobreviver em terrenos onde a superioridade técnica já não bastava. O seu legado permanece, discreto mas sólido, nas páginas dos manuais, nas doutrinas de guerrilha e nos testemunhos de quem com ele aprendeu.

Flávio Gonçalves

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segunda-feira, 23 de junho de 2025

Quem foi Daniel Carter Beard?


Daniel Carter Beard entra em 2025 no catálogo da colecção Prontidão & Sobrevivência com a obra Abrigos, Cabanas e Barracões, um manual extensamente ilustrado que nos ensina a construir desde os abrigos mais rudimentares ao ar livre às cabanas de madeira mais elaboradas. Mas quem foi Daniel Carter Beard?

Nascido a 21 de Junho de 1850 no Cincinnati, Daniel Carter Beard cresceu num tempo em que os Estados Unidos ainda guardavam, nas margens dos rios e nas dobras das florestas, o eco recente dos pioneiros. Filho de um pintor de retratos e sobrinho de um caricaturista célebre, Beard moveu-se desde cedo entre duas realidades que marcariam toda a sua vida: a Natureza e o papel impresso. A primeira deu-lhe a bússola moral, a segunda, as ferramentas com que haveria de a partilhar.

A juventude passada em Covington, no Kentucky, não foi só geograficamente próxima da fronteira — foi também espiritualmente modelada por esse imaginário. O que para outros não passava de um bosque ou de um riacho, para o jovem Daniel era um campo de provas, uma sala de aula, uma catedral. Depois de estudar engenharia civil e de trabalhar como topógrafo, percebeu que a sua verdadeira construção não seria feita de pontes e estradas, mas de ideias, imagens e acções formativas.


Foi em Nova Iorque, já como ilustrador profissional, que começou a moldar o seu estilo — visual e literário — ao serviço de um ideal que ainda não tinha nome. Ilustrou obras de Mark Twain, escreveu para revistas juvenis, publicou The American Boy’s Handy Book, mas o que de facto preparava, sem o saber ainda, era uma pedagogia viva, informal e profundamente transformadora, ancorada nas virtudes práticas, na autossuficiência e na observação directa do mundo natural.

Quando fundou os Filhos de Daniel Boone, em 1905, Beard não estava só a imitar os trajes ou os emblemas dos antigos caçadores e desbravadores de terras — estava a propor, para os jovens do seu tempo, um ethos alternativo à urbanização crescente e ao conformismo industrial. Ali, os rapazes aprendiam a acampar, a seguir pistas, a construir abrigos e, sobretudo, a pensar por si próprios em comunhão com a Natureza.

Esse projecto viria a ser absorvido, cinco anos mais tarde, pela recém-criada Boy Scouts of America. Beard tornou-se Comissário Nacional da organização, cargo que manteria durante mais de três décadas. Foi ele quem desenhou o uniforme escutista, idealizou o distintivo de Primeira Classe e deu forma e conteúdo aos primeiros manuais e revistas do movimento. Mas mais do que cargos ou insígnias, o que nele importava era a coerência de fundo: a convicção de que educar um jovem era torná-lo capaz, atento e livre.

Há um ponto de inflexão interessante na figura de Beard: ao contrário do seu contemporâneo Baden-Powell, nunca disfarçou a sua militância política. Aderente do georgismo — a proposta de tributação única sobre o valor da terra, defendida por Henry George — e reformador social convicto, contudo nunca viu o escutismo como um refúgio da política, mas antes como uma escola activa de cidadania e justiça.

Faleceu a 11 de Junho de 1941, com 90 anos, em Suffern, Nova Iorque. No seu funeral, participaram mais de dois mil escuteiros; cento e vinte e sete fizeram guarda de honra. Chamavam-lhe “Tio Dan”, e talvez nenhum outro título melhor sintetize a forma como o viam os que com ele aprenderam. Era um guia, mas não um chefe; um homem com autoridade, mas sem autoritarismo; um visionário prático, como todos os bons pioneiros.

Hoje, Beard é recordado com pontes, parques, conselhos regionais e casas-museu baptizados em sua honra. Mas o seu verdadeiro legado não é em pedra nem em madeira — é feito do gesto silencioso de um rapaz a acender uma fogueira com as próprias mãos, ou do olhar curioso de quem aprende a ler as pegadas no chão como se fossem palavras num livro antigo. E esse gesto, esse olhar, continuam a ser ensinados em seu nome.

Flávio Gonçalves

Nascida como revista, a Prontidão & Sobrevivência é um projecto editorial que edita livros pensados para adeptos do sobrevivencialismo em todas as suas vertentes. Este projecto só é possível graças aos generosos donativos dos seus leitores, ao tornar-se nosso mecenas no Patreon (patamar 5€) receberá em sua casa os nossos livros na versão capa mole ou (no patamar 10€) em capa dura, bem como autocolantes e outro merchandising que possamos vir a editar.