sábado, 7 de maio de 2022

Filosofia da sobrevivência, entrevista com Ragnar Benson


O excerto de entrevista que se segue é uma raridade, foi levada a cabo por Virginia Thomas da agência noticiosa National News Service, escritórios de Denver, e publicada na Paladin Press Magazine. Não conseguimos resgatar nem a entrevista por completo nem sequer determinar em que número da revista foi publicada, o original encontra-se no Archive.org. A entrevista foi dada por ocasião do lançamento de Refúgio de Sobrevivência em 1983, obra que estamos actualmente a traduzir para a colecção Prontidão e Sobrevivência.

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O autor sobrevivencialista Ragnar Benson passou recentemente pelo Aeroporto Internacional de Stapleton para esta entrevista. Sabido no que diz respeito às realidades do mundo, tanto graças ao seu historial de rapaz de quinta como às suas andanças internacionais, Benson destaca-se pelas suas ideias práticas - embora extraordinárias - no que à autossuficiência diz respeito. As respostas que aqui nos deu representam algumas das filosofias que encontramos no seu livro mais recente, Refúgio de Sobrevivência.

Na sua opinião, porque é que as pessoas se tornam sobrevivencialistas?

As pessoas investem o seu tempo e o seu dinheiro no sobrevivencialismo por terem uma preocupação genuína quanto ao seu futuro. Sentem que o equipamento que compram, o conhecimento que adquirem e os mantimentos que armazenam lhes dão uma espécie de garantia no que diz respeito ao futuro, uma habilidade para reagirem de modo positivo ao que poderia de outro modo parecer uma situação desesperante.

Escreve no Refúgio de Sobrevivência que devemos "praticar a arte do possível". O que quer dizer com isto?

Não é qualquer pessoa em qualquer situação que conseguirá organizar um refúgio. Pessoas muito pobres e pessoas que tenham outras prioridades na verdade não podem despender muito tempo nem muito dinheiro para preparar um refúgio. O que sugiro é que qualquer pessoa consiga formular uma filosofia de refúgio que tenha por base aquilo que realmente já tem ou conseguirá obter sem grande esforço. Há que compreender que ninguém consegue escrever uma fórmula concisa, detalhada, que se possa aplicar à situação de cada pessoa. Alguém que viva no centro de Denver terá necessidade de um refúgio diferente de alguém que viva nas montanhas do Montana. Uma pessoa tem de determinar quais são as suas mais-valias e depois, de modo muito esperto e ambicioso, planificar aplicá-las do modo que lhe for mais vantajoso.

Escreve também que os sobrevivencialistas são pessoas que já analisaram os imprevistos mais prováveis e se preparam para os mesmos. Quantas pessoas julga que fazem mesmo isso?

Estou em crer que um bom número de pessoas já avaliaram as probabilidades; o grupo dos anti-nuclear por exemplo, acham que há uma grande probabilidade de ocorrer uma guerra nuclear. Muitos sobrevivencialistas pensam o mesmo. Mas o movimento anti-nuclear deposita demasiada fé no governo. Parece-me ser em boa parte uma idiotice ter demasiada fé no nosso próprio governo, e ainda mais julgar que os soviéticos se irão desarmar ou aceitar qualquer outra desvantagem militar. Mas voltando à sua pergunta, creio que poucas pessoas se estarão a preparar a sério.

E quanto aos outros - os que não se preparam? Vamos apodá-los de quê?

A etiqueta que tento aplicar-lhes é a de "preguiçosos". Muitos deles ficam satisfeitos em sentar-se a ver televisão, o que é extremamente passivo. Talvez "passivos" seja uma etiqueta mais adequada. Acredito que os sobrevivencialistas participam no seu próprio futuro. Os restantes não têm lá grande interesse em preparar-se ou podem, na realidade, já ter desistido e acreditar que não têm qualquer futuro. Na verdade não tenho qualquer problema com essas pessoas. Não vou subir a um caixote e discursar que a sua filosofia [de vida] está errada. Opero com base na perspectiva de que tudo sempre teve a ver com a sobrevivência dos mais aptos e de que os mais aptos são aqueles que se preparam e tentam concretizar os seus objectivos com entusiasmo. Por definição, os sobrevivencialistas serão sempre os mais aptos.

Porque quer viver durante e depois de uma crise?

Suponho que tenho uma grande sede de vida [...].

Publicado originalmente em 1983 na Paladin Press Magazine, esta tradução foi efectuada por Flávio Gonçalves e deixou de fora algumas perguntas que não conseguimos obter. Caso nos queira auxiliar a traduzir e produzir mais conteúdos, por favor consulte o nosso Patreon. Esta tradução pode ser livremente reproduzida desde que incluam uma menção à prontidaoesobrevivencia.com e não omitam o nome do tradutor.

terça-feira, 26 de abril de 2022

Os conhecimentos de Helen e Scott Nearing


Tradução de The Wisdom of Helen and Scott Nearing, © Mother Earth News | traduzido sob expressa autorização.

Como já várias vezes referimos nestas páginas, a Helen e o Scott Nearing estão anos luz à nossa frente no que diz respeito ao regresso à terra e a viver uma vida de simplicidade voluntária. E é normal que assim seja, uma vez que começaram com uma quinta degradada nas Green Mountains do Vermont há já muito tempo, no Outono de 1932.

A vida era boa para os Nearing naquela mini-quinta... até as encostas em redor deles começarem a eclodir com resorts de ski nos primórdios dos anos 50, obrigando Helen e Scott a mudarem-se para uma enseada rochosa na costa do Maine e a começar tudo de novo.

E é aí que encontramos actualmente os Nearing: ainda a limpar monda, ainda a construir honestas casas de pedra (a Helen e o Scott são famosos pelas suas casas de pedra), e ainda a plantar a maior parte da sua dieta vegetariana eles mesmos em jardins holísticos inacreditavelmente produtivos... como têm feito há já 50 anos.

Naturalmente (de várias formas), os Nearing aprenderam algumas coisas acerca de vida de quinta e regressar ao básico ao longo dos anos. E, para sorte de todos nós, concordaram em partilhar algum do seu conhecimento com os leitores da Mother Earth News numa coluna de perguntas e respostas. Não contem com respostas personalizadas às vossas questões. As questões mais frequentes serão aqui - e só aqui respondidas - onde todos podemos ler o que os Nearing têm a dizer.

P: Limpei 1,5 hectares de amieiros dos meus jardins, mas agora tenho de lidar com a tarefa de retirar os troncos que estão bem enraizados. Há como me livrar deles sem ter de utilizar maquinaria pesada? Já vi escavadoras a trabalhar e dão cabo do solo.

R: Há coisa de uns vinte anos, tivemos o mesmo problema que aqui descreve: um pedaço de terra repleto de árvores e troncos de arbustos. Limitamo-nos a cortar o lote todo encostado ao chão e depois cobrimos tudo com muita palha podre. Passados alguns anos, os troncos apodreceram por completo e a terra ficou limpa. Esta técnica é uma alternativa às escavadoras, e deste modo prepara-se uma terra crua para uma bela plantação de mirtilos. Encontrará uma descrição pormenorizada de como o fizemos no Capítulo 8 do nosso livro, Continuing the Good Life.

P: Qual a vossa opinião acerca das "ervas" medicinais, como os chás medicinais? Caso façam uso deles, quais os vossos favoritos?

R: Utilizamos raiz de consólida esmagada como cataplasma em feridas e manchas na pele, e o sumo das folhas de aloe vera com o mesmo propósito. Bebemos chás de camomila, cavalinha e frutos de roseira brava pelas suas propriedades benéficas.

A nossa amiga Juliette de Bairacli Levy, no seu Herbal Handbook for Everyone, cobre o assunto em grande detalhe. Infelizmente, o livro esgotou, mas - caso consiga encontrar algum exemplar numa biblioteca ou alfarrabista - estamos certos de que o achará de grande utilidade (bem como outros volumes da autoria da Juliette).

P: Fiquei a conhecer-vos graças aos artigos na Mother Earth News, livros e passa palavra. Gostava mesmo de trabalhar convosco... pois quero aprender imenso acerca da jardinagem orgânica, com pouca tecnologia.

No passado, fui aprendiz em Sonnewald com os LeFevers, que foram extremamente úteis aos muitos que foram ter com eles. Contudo, comprendi que - naquela situação - o processo de aprendizagem tinha de ser frequentemente interrompido para deixar que outros também participassem no mesmo projecto por algum tempo.

Claro, não faço ideia de precisam de ajuda. Se não precisarem, talvez me possam indicar outros jardineiros da Costa Leste que queiram aprendizes. Adoro trabalhar no duro e seria um ajudante bem motivado.

R: Depois de milhares de pessoas nos aparecerem todos os anos a querer aprender ou "ajudar"... tivemos de publicar uma carta formal que dizia algo como isto: "ficamos satisfeitos pelo vosso interesse no nosso modo de vida. Desde a publicação do nosso livro Living the Good Life [Viver a Boa Vida], centenas têm perguntado se podem visitar a nossa quinta durante o Verão, um mês, uma semana, um dia ou uma hora. Teríamos muito gosto em vos receber a todos, mas isto cria-nos problemas. Caso tenhas de abandonar o nosso modo de vida quinteiro autossuficiente para criar uma escola, uma cada de hóspedes, um restaurante - ou qualquer tipo de instituição - estaríamos a abdicar da nossa boa vida e a começar um negócio! 

Preferimos continuar a viver a nossa vida simples de quinteiros, utilizando o tempo livre para escrevermos... o que fazemos durante as manhãs. Podemos receber visitas - por marcação - entre as 15:00 e as 17:00 da tarde, mas as nossas manhãs são só nossas.

Lamentamos não ser mais acolhedores, mas demasiados visitantes iriam manter-nos afastados do trabalho necessário e constante de vários livros novos, os quais estamos determinados a completar. Agradecemos a vossa consideração em deixar-nos continuar a viver a boa vida."

Publicado originalmente na edição de Jan/Fev de 1980 da Mother Earth News, esta tradução foi efectuada por Flávio Gonçalves e deixou de fora algumas perguntas que consideramos irrelevantes, mas que podem ser consultadas no original em língua inglesa. Caso nos queira auxiliar a traduzir e produzir mais conteúdos, por favor consulte o nosso Patreon. Esta tradução foi devidamente autorizada pelos detentores dos direitos de autor e pode ser livremente reproduzida desde que incluam uma ligação à versão original e não omitam o nome do tradutor.

Foto: Walden Woods Project’s Thoreau Institute Library

sábado, 12 de março de 2022

Primeiro número da revista "Prontidão & Sobrevivência" já disponível


timing aparentemente não podia ser melhor, o nosso primeiro número chegou finalmente da gráfica este mês, já estamos a aceitar encomendas pelo prontidaoesobrevivencia@gmail.com. 9€ já com portes em venda directa, estará nas livrarias (uma dezena de pontos de venda, além de Wook e site da Bertrand) a 9,54€. São 96 páginas em formato National Geographic, miolo ilustrado a preto e branco, pagamento por PayPal ou transferência bancária, os dados serão fornecidos em resposta ao email.



segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

John Shuttleworth: Director e Editor da Mother Earth News

Entramos em 2022 inaugurando a nova secção Entrevistas Históricas traduzindo a primeira entrevista do Plowboy - nome genérico utilizado pela redacção da Mother Earth News para assinar as suas entrevistas - com John Shuttleworth, fundador da revista pioneira do sobrevivencialismo e da autossuficiência dos EUA unindo várias gerações de sobrevivencialistas, revista essa que assinalou o seu 50º aniversário em 2020 e é uma grande inspiração para a Prontidão & Sobrevivência.

John e Jane Shuttleworth

sábado, 2 de outubro de 2021

Passamos três dias numa comunidade alternativa


É verdade, as comunidades alternativas estão a crescer como cogumelos em Portugal e não resistimos a ir dar uma espreitadela a uma delas algures no Ribatejo, distrito de Santarém, para vermos quão viável e confortável pode ser o modelo que queremos aplicar na quintinha que compramos no mesmo distrito. Durante três dias e duas noites vivemos numa mini-autocaravana, utilizamos latrinas secas e reciclamos toda a água.

sábado, 25 de setembro de 2021

As várias vagas do sobrevivencialismo


O sobrevivencialismo não surge por criação espontânea no século XXI, na prática resume-se ao estilo de vida dos nossos antepassados, mas adoptado de modo consciente e racional como estilo de vida, ou passatempo, que nos permite fazer frente a qualquer imprevisto ou, levado ao seu extremo, de modo livre e auto-sustentado. Resumimos em seguida aquilo que consideramos terem sido as primeiras QUATRO vagas do sobrevivencialismo ao longo da História, ou seja quando este foi popular ao ponto de se tornar em fenómeno de massas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Mantra do Sobrevivencialista Lúcido: Regras de Senso Comum em Prontidão


Tradução de The Sane Prepper Mantra: Common sense rules for prepping, © The Prepared | traduzido sob expressa autorização.

Uma vez que preparar-se faz sentido, como preparar-se também deve fazer sentido! Infelizmente, muitas das pessoas que tentam preparar-se acabam por se confundir ou seguem maus conselhos que encontram em blogues da treta e nas redes sociais. Após anos de experiência a preparar-nos pessoalmente e a ensinar terceiros, criamos as Regras do Sobrevivencialista Lúcido de modo a manter as coisas racionais e relevantes. Aplicamo-las quando escrevemos artigos pensados para si, e devia utilizá-las nas suas decisões pessoais.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O que é uma ecoaldeia?


Tradução de What is an Ecovillage, da versão anterior do portal GEN Europe | traduzido ao abrigo da licença CreativeCommons 4.0. Foto: kibbutz de Lotan, Israel.

As ecoaldeias são uma manifestação da inovação e consciência humanas: grupos de pessoas a viver de acordo com os seus princípios, a regenerar o ambiente e a aumentar a sua noção de pertença e propósito como comunidade.

Uma ecoaldeia é uma comunidade intencional, tradicional ou urbana conscientemente concebida a partir de materiais locais, através de processos de participação em todos os quatro aspectos da regeneração (social, cultural, ecológica e económica) de modo a regenerar tanto o ambiente social como o cultural.

As ecoaldeias existem em todas as formas e tamanhos, e encontram-se espalhadas por todo o mundo: desde aldeias tradicionais que utilizam técnicas ancestrais, a aldeamentos modernos construídos com as inovações ecológicas mais recentes. 

…e o que não é uma ecoaldeia?

Cada ecoaldeia é única e não existem quaisquer restrições estreitas quanto à definição de uma ecoaldeia. Contudo, existem alguns agrupamentos que não constituem ecoaldeias, entre eles:

Famílias que vivem juntas: a família pode parecer uma comunidade – mas o processo intencional da criação de uma ecoaldeia vai para lá da família nuclear.

Grupos religiosos: uma ecoaldeia pode conter várias crenças religiosas, mas não é isso que a define como ecoaldeia.

Seitas ou cultos: um culto pode ter uma liderança carismática e inimputável com base em práticas coercivas. Por contraste, a participação e uma liderança compartilhada são aspectos que definem as ecoaldeias.

Declaração de Tolerância

A Rede Global de Ecoaldeias da Europa promove o modo de vida em comunidade em quatro aspectos da sustentabilidade, de acordo com a nossa visão e missão. Através do nosso processo de filiação, acolhemos aldeias cujos valores estejam em linha com os nossos.

Damos importância aos nossos valores. Estamos cientes de que possam existir organizações ou grupos de pessoas que interpretem parte dos nossos textos, publicações, nome e definição de ecoaldeia, ou partes do nosso portal, e os utilizem para promover ideias ou acções que não estão em linha com a visão, missão e valores da RGE Europa. Estas não estão filiadas à RGE Europa nem são consideradas como parte da nossa rede.

Somos tolerantes para com a diversidade de perspectivas dentro do nosso movimento; contudo, condenamos e distanciamo-nos de quaisquer grupos ou indivíduos que (não) intencionalmente magoem ou promovam quaisquer danos para com outros indivíduos ou grupos. Exemplos de iniciativas das quais nos distanciamos activamente são:

Grupos/movimentos políticos extremistas e de extrema-direita.

Indivíduos ou grupos que pratiquem ou promovam a discriminação com base na raça, etnia, sexualidade ou identidade de género.

Indivíduos ou grupos que tenham práticas antidemocráticas.

Tradução: Flávio Gonçalves

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Carmen Lima: “as batalhas deste século” serão pela água


Em 2020 Flávio Gonçalves entrevistou Carmen Lima, coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus e fundadora do SOS Amianto, para o jornal digital Pravda.ru por ocasião do lançamento do seu livro "Não Há Planeta B", dado o relatório mais recente da ONU  sobre o estado do clima admitir que estamos já em "alerta vermelho" (palavras de António Guterres) decidimos ir ao arquivo recuperar esta entrevista.

domingo, 8 de agosto de 2021

Estatuto Editorial


A Prontidão e Sobrevivência é uma revista não periódica que se rege pelas ideias inerentes ao livre pensamento, à liberdade de expressão e ao pluralismo de ideias;

A Prontidão & Sobrevivência é independente do poder político, do poder económico e de quaisquer grupos de pressão;

A Prontidão & Sobrevivência tentará divulgar o mais objectivamente possível e da perspectiva sobrevivencialista, tendo sempre por base o pragmatismo, as várias correntes de pensamento autossuficiente, sejam artes mateiras, preparação, permacultura, ecoaldeias, autodidactismo, etc.;